CONJUNTO FARROUPILHA

Um século depois de findada a guerra dos farrapos, o sul é novamente palco de um acontecimento de proporções intercontinentais.Conjunto vocal criado na Rádio Farroupilha, em Porto Alegre, no fim da década de 40, no início restringiam-se ao repertório típico gaúcho com sucessos como "Negrinho do Pastoreio", "Boi Barroso" e "Pezinho". Nesse estilo gravaram vários discos, como "Gaúcho", "Gaúchos em Hi-fi" e "Gaúchos na Cidade". Na década de 60 fizeram trabalhos ligados à bossa nova, mudando um pouco o estilo. Entre seus maiores sucessos destacam-se "Bolinha de Sabão" (Orlandivo/ A. de Azevedo), "Moça da Chuva" (P. Nogueira/ R. Moreira), "Azul Contente" (W. Santos/ T. Souza) e "Papai Walt Disney". Sidney Moraes, um dos integrantes, lançou-se mais tarde em carreira solo como cantor de boleros, com o nome de Santos Morales. Em meados da década de 80, pouco antes da extinção do grupo, foi substituído por Sabá, ex-baixista dos grupos Jongo Trio e Som Três. Em 1997 o fundador Tasso Bangel criou outro grupo, o Sexteto Brasil de Cordas. Outros integrantes foram Danilo Vidal de Castro, Iná Bangel e Estrela D'Alva Lopes de Castro.










Após o disco de estreia pelo selo Rádio, o Farroupilha lançava outros dois LPs seguindo a mesma linha regional: “De Norte a Sul” (Odeon) e “Gaúchos em Hi-Fi” (Columbia). “Gaúchos na Cidade” (Columbia), de 1958, seria o turning point do conjunto. Muito antes de se falar em globalização, os Farroupilhas agora cantavam também em Italiano, Francês, Inglês e Alemão: “Basta um Pouco de Música” (Marino Marini / Diego Calcagno), “Chanson D’amour” (Wayne Shanklin), “Mister Lee” (Dixon / Sathers / E. Pought / J. Pought / Webb), “Liechtensteiner Polka” (Kotscher / Lindt). Mantinham sua tradição em canções como "Entrevero no Jacá" (Barbosa Lessa / Danilo Vidal) e gravavam ainda “Por Causa de Você (Jobim / Dolores Duran), iniciando flerte com o universo Bossa Nova. Durante aqueles anos dourados, associados ao Ministério das Relações Exteriores, viajavam com o patrocínio da Varig, empresa fundada em Porto Alegre em 1927,  e representavam o Brasil em eventos internacionais, sempre entoando uma canção típica do país visitado, levando seu repertório a crescer e se diversificar, tornando o grupo um dos mais versáteis de que se tem notícia.

O conjunto lança em 1960 “Os Farroupilhas em Hi-Fi”, louvando suas origens no lado A com canções típicas como “Meu Rio Grande”  (Altivo Penteado Garoto) e saudando a pluralidade da música popular brasileira no lado B em clássicos como “Nunca”, samba-canção de Lupicínio Rodrigues, “Sábado em Copacabana” (Dorival Caymmi / Carlos Guinle) e “A Felicidade” (Jobim / Vinícius de Moraes), reafirmando a identificação com a estética que despontava àquela época.


A diversidade do conjunto segue em “Os Farroupilhas na TV” (Columbia), 1960, que marca a atração televisiva que tiveram na TV Record. Encerrando sua fase na Columbia, lançam “Aí Vem a Marinha”, 1961, junto da Banda da Marinha Brasileira que, em arranjos de Lyrio Panicali, exaltava a instituição à luz dos ideais desbravadores e progressistas de Juscelino Kubitscheck.

Em associação com a gravadora Fermata, o conjunto cria sua própria etiqueta, a Farroupilha Discos, partindo para uma empreitada tanto mais autossuficiente. O selo é responsável por lançamentos de nomes como Jongo Trio, Os Tatuís, Pedrinho Mattar, Os Poligonais além de discos do próprio Conjunto Farroupilha, como o clássico “Os Farroupilhas”, 1963, LP hoje disputado em lojas especializadas. Sua capa traz os integrantes em uniformes de comissários de bordo, não por acaso com as cores da conterrânea Varig – Viação Aérea Rio-Grandense, como pouco se sabe. Cabe citar que o povo gaúcho é um dos mais fiéis as suas origens como a sua cultura, como atesta matéria de Igor Paulin para a revista Veja, de abril de 2009, intitulada “Marketing da Bombacha”:

O orgulho que os gaúchos têm de sua terra e de suas tradições vai muito além do aspecto folclórico, como logo descobrem as empresas estrangeiras e de outros estados que tentam conquistar o mercado do Rio Grande do Sul: eles de fato dão preferência a produtos autóctones. Essa espécie de protecionismo comercial por razões culturais é uma peculiaridade gaúcha.


Em seu LP de 1963, o conjunto se debruçava sobre o balanço neo-bossa-novista , como se percebe em “Por Causa de Você, Menina” (Jorge Ben), “Bolinha de Sabão (Orlandivo / Adilson Azevedo) e “João Sebastião Bach” (Dick Farney / Nestor Campos). “O que Cantamos na TV”, LP de 1964,  propunha um passeio turístico pelo mundo: “Meu Querido Portugal” (Danilo Castro / Sidney Morais), “Balanço Zona Sul” (Tito Madi), “Souvenir de Paris” ( J. Borel / J. Moreau / M. Rossi), entre outras.

Ainda na década de 60, finda-se o selo Farroupilha. Após um hiato fonográfico de quatro anos, o quinteto grava para a Continental, em 1968, “Temas Gaúchos”, reafirmando sua volta às origens em clássicos de seu repertório sulista, alguns outrora registrados pelo próprio conjunto. Adormecem os Farroupilhas por quinze anos. A convite de Rolando Boldrin o grupo torna a se reunir e, após longos meses de ensaio, apresenta-se no programa “Som Brasil”, da TV Globo. Em 1983, reavivado, grava o LP “Farroupilha 35”, produzido por Boldrin para o selo Som Brasil, vinculado ao programa e ligado à RGE, dedicado totalmente à música regional.
Com sua harmonia vocal característica e íntegra, apesar do tempo passado, o Conjunto Farroupilha faz sua derradeira gravação, integrando a trilha da minissérie “O Tempo e o Vento”, da TV Globo, ambientada no sul do Brasil: “Meu Boi Barroso”, canção tradicional adaptada por Tasso Bangel, o líder do conjunto. Este, formado em regência, é compositor de obras clássicas de caráter nacionalista e especialmente sulista como a ópera “Romance Gaúcho”. Hoje, com 79 anos, mantém-se ativo como produtor musical. Recentemente fez aparições no programa “Sr. Brasil” da TV Cultura.


A discografia do Conjunto Farroupilha está fora de catálogo, mas muitos de seus títulos podem ser encontrados para download no precioso blog Loronix. Note-se que para quaisquer estilos ou vertentes musicais a colocação das vozes dos integrantes do Farroupilha  sob a batuta de Bangel  sempre se manteve peculiar, com a impostação característica dos cantores de rádio, o autêntico acento sulista que jamais se desejou esconder, e ainda o humor, características responsáveis por cunhar a marca de um grupo que se tornou referência em harmonia vocal, ecletismo, ousadia e autenticidade.


Olá a todos! Finalmente, cá estou regressando de minha viagem ao Rio de Janeiro e colocando a vida em ordem. Para me redimir com os nossos leitores, farei hoje um post diferente sob vários aspectos. Pela primeira vez, focalizaremos um conjunto, vocal neste caso; que se desenvolveu fora do eixo Rio-São Paulo, cantando dois gêneros jovens e dançantes. Vamos lá!
Nos anos 40 e 50, a Rádio Farroupilha era a maior do estado do Rio Grande do Sul, pertencendo a um grande conglomerado e com grandes anunciantes, como a Pepsi Cola. Esta emissora inspirava-se nas grandes rádios cariocas, com um vasto elenco fixo e contratado, trabalhando em grandes musicais. Para se ter uma idéia, eram de uma audácia que lhes permitiam recriar com seus próprios artistas alguns dos mais luxuosos programas de estúdio da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como "A Canção da Lembrança" e "Um Milhão de Melodias". Eis que em 1948, surge um conjunto sem nome definido que entoava canções típicas ao seu microfone. Por conta do sucesso, Danilo, Tasso, Iná, Estrela d'Alva e Alpheu (mais tarde substiduído por Sidney Moraes, primeiramente apenas nas viagens pra fora do Sul, depois, permanentemente) foram batizados com o nome da rádio que os contratou. Sob a batuta de Tasso, as tradicionais canções gaúchas ganhavam nova roupagem, com arranjos vocais de impressionante beleza. Ele, muito jovem ainda, por sua competência como arranjador, passou também a maestro da rádio, regendo a orquestra da Rádio Farroupilha ao lado do veterano Maestro Salvador Campanela. Os chamados para apresentações e gravações vinham de toda parte e as fronteiras de seus estado já não comportavam a revolução que estavam fazendo na seara dos conjuntos vocais.

Difícil é desfilar de maneira sucinta todos os louros que o conjunto colheu pelos anos. Ganharam todos os troféus possíveis, tanto de rádio como de TV, tiveram programas exclusivos Viajaram o mundo todos (fizeram parte, inclusive, da lendária excursão que foi à União Soviética em 1958, ao lado de Dolores Duran, Jorge Goulart, Nora Ney e Maria Helena Raposo). Cantaram todos os gêneros e ritmos, mas nunca abandonaram as músicas da terra natal. Não tinha língua, dissonância ou canção em tom menor que desafiasse nosso grupo. Nosso amigo blogger pode ter a plena certeza que não existiu NADA melhor em matéria de conjunto vocal no Brasil!

As duas gravações que levamos até vocês datam de 1956 e foram realizadas em Porto Rico, conforme consta no selo. A primeira é um calypso-fox, quase um rock, uma delícia, onde fica bem evidente a beleza da voz da solista Iná. Gostaria aqui de fazer um pequena observação sobre o calypso. O tal calypso já foi apanhado na cama de diversos outros ritmo, causando casamentos interessantes, como calypso-rock, calypso-rumba, calypso-mambo, e calypso-chá (!!!). Geralmente, cotumava designar um rock mais lento ou menos agitado que o rock'n roll. A segunda gravação, é um belo chá-chá-chá, como o próprio título da música não deixa negar. Provavelmente, o acompanhamento foi feito por músicos do próprio país, o que confere aquele balanço que só quem é originário do país sabe fazer. Bem, vamos deixar de conversa e deixar vocês com os vocais e efeitos maravilhosos do Conjunto Farroupilha! Só uma coisa: é só ouvir e tirar seu parceiro pra dançar, porque ambas as músicas são uma delícia, com grande potencial viciante!
P.S.: As fotos que postamos não tem muita ligação com as músicas apresentadas neste disco, certo? Portanto, disponibilizamos uma faixa, de 1960 dessa vez, onde eles interpretam a música "Tatu", uma dança típica gaúcha.


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Discografia

  • Piazito carreteiro/A chimarrita (1956) Odeon 78
  • Meu benzinho/Conceição (1957) Odeon 78
  • Sonho azul/Gauchinha bem querer (1957) Odeon 78
  • Aconteceu/Muy cerca de ti [S/D] Colúmbia 78
  • Mr. Lee/Clases de chá-chá-chá [S/D] Colúmbia 78
  • Liechtensteiner polka/Ratoeira [S/D] Colúmbia 78
  • Por causa de você/Basta un poco di musica [S/D] Colúmbia 78
  • Tem que ser/Chanson d'amour [S/D] Colúmbia 78
  • Entrevero no jacá/Ein glaeschen wein und du [S/D] Colúmbia 78
  • Eine kleine cha cha cha/Noites de Moscou [S/D] Colúmbia 78

Discos de Carreira

CONJUNTO FARROUPILHA 35

Som Brasil/RGE - 1983

GAÚCHO

Discos Rádio - 1953
  
GAUCHO EM HI-FI

 Columbia - 1957
 

[Conjunto+Farroupilha+-+Gauchos+em+HI-FI+(1957)-image006.jpg]

 
 





 

 

 







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O Conjunto Farroupilha no filme "As Aventuras de Pedro Malasartes", produção dirigida e estrelada por Mazzaropi em 1960.

Comentários

  1. Super parabéns pela pesquisa! Lindo!
    Camerata Pampeana - sexteto instrumental idealizado pelo maestro Tasso Bangel - Porto Alegre/RS - 2013
    https://soundcloud.com/camerata-pampeana

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  2. Vamos tentar colaborar no resgate da história e discografia do Conjunto Farroupilha, pois tivemos a honra e a sorte de compartilharmos algum tempo com três integrantes do grupo vocal, em Porto Alegre-RS, e intermediarmos dois programas de rádio com entrevistas musicadas com Danilo Vital de Castro, sua esposa a vocalista Estrêla DAlva e Tasso Bangel, nos anos de 2002 e 2018, talvez com os últimos depoimentos de integrantes fundadores do maravilhoso Conjunto Farroupilha. Também estamos empenhados na recuperação e disponibilização do acervo musical do grupo (já estamos com cerca de 80% da obra remasterizada para CDs), faltando apenas alguns raros discos gravados em 78 RPM. Aceitamos todo tipo de colaboração para a produção do livro dos Farroupilhas, assim como pretendemos disponibilizar para os fãs, todas as gravações remasterizadas do Conjunto Farroupilha. Contatos: enioseibert@hotmail.com Fone: (51) 3013.5565 - Porto Alegre-RS. ENIO SEIBERT

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